Pensar sem estudar é inútil
Estudar sem pensar é perigoso
Confúcio
No estudo e na percepção das coisas, o problema é o indistinto. Saber o que ou como o indistinto se manifesta “não se manifestando” é, talvez, um dos obstáculos mais sérios ao desenvolvimento do saber.
“Sem estudo, não podemos saber o gosto das coisas”, disse Confúcio. O estudo, portanto, é um desafio às coisas. Pode ser conduzido, como no caso da cultura e das tradições (xue), ou pode ser resultado da experiência de vida (zhi). Ambas se complementam e se engendram, e uma não atinge a perfeição sem a outra. O problema ocorre, contudo, quando se estabelece uma indistinção das coisas.
O indistinto não é o vazio, pois este é gerador e constitui um espaço em aberto para o novo. A indistinção procede, na verdade, de um mal conhecimento das coisas, que faz com que tudo “pareça” o mesmo diante de uma análise deturpada dos princípios da mutação. Quem estuda de modo insuficiente, e constrói para si uma visão incompleta, desmotiva-se a buscar o inusitado, procura não se incomodar com as novas manifestações e conhecimentos e responde – com palavras ultrapassadas e idéias tortas – aos problemas novos e originais que se produzem pelo avanço do saber.
A desolação do indistinto é que o ignorante torna-se negligente com o presente e o futuro. Ancora-se num passado acabado – ou pior, num ajuste sem raízes – sem buscar compreender o fundamento das coisas, e sem adequar este estudo à transformação.
O indistinto é esta indiferença, a displicência engajada, resultante da vã crença de que um mau conhecimento, apenas, pode traduzir o mundo. Tal desolação coloca o estudo numa pasmaceira repetitiva, alienada, que julga poder submeter a mutação de modo arbitrário. Para aquele a quem tudo se torna indistinto, as coisas são desinteressantes, e não promovem o estímulo da mudança. A indistinção cria uma permanência perniciosa, cujas tensões são levadas ao limite até que o ciclo da mutação aja e provoque uma mudança violenta. Quando isso ocorre, os olhos e a mente se abrem a força, e as mudanças se dão no atropelo. Que não se confunda a paz com a indistinção; a paz depende da manutenção e do ajuste constante. A displicência e o descompromisso indistintos se encaminham para a estagnação, e se corrompem. Por isso um sábio nunca fica parado, nem acredita que já sabe tudo.
Saber o que se sabe e o que não se sabe – isso é saber!
Confúcio
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