Shang sucedeu Xia, assim como Zhou sucedeu Shang. Não vejo como isso irá mudar.
Confúcio
Xia foi madeira; Shang foi metal; Zhou foi fogo; Qin foi água; Han é terra.
Sima Qian
Mais do que uma casa real ou o nome de um reino, o tempo dinástico, para os chineses, era um “estado de coisas” na matéria. O que Sima nos propõe, ao afirmar que as dinastias seguem o ciclo dos cinco estados da matéria?
“Quando o mundo segue o Caminho, os ritos, a música e as expedições militares são todos determinados pelo Filho do Céu.”. Quando Confúcio criou a teoria do Mandato Celeste, o mesmo entendia que o tempo de uma dinastia era determinado pela relação harmoniosa entre os cuidados do mundo, por parte dos humanos, e o respeito às leis ecológicas que regiam a natureza e a sociedade (entendida como desdobramento da primeira). Os cuidados significavam Li – a cultura, - que ordena as relações, os ritos, as práticas, hábitos e leis – e que as pessoas tomariam entre si, de modo a cuidarem-se, preservarem a vida mutuamente e assim, não se exceder em relação à natureza. Havendo He – harmonia – a relação desta ecologia entre humanidade e natural estaria preservada.
Os meios pelos quais se mantém um povo consistem, pois, em sua cultura. Investigar como a mesma surge, se aplica e se transforma é realizar a história. Esta, pois, ao investigar os ciclos dinásticos, infere que uma dinastia é um estado das coisas na mutação, na matéria, organizadas numa relação cujas leis são constatadas numa determinada época – podendo, contudo, se alterar.
A história, portanto, acompanha as transformações da mutação para extrair dela os princípios que retém a centralidade, a unidade de uma civilização. Sima Qian, ao perceber isso, pretendeu identificar as propensões da mutação para compreender que fenômenos sustém, conservam ou desagregam um estado das coisas na sociedade – ou seja, o conjunto das relações dentro de uma temporalidade, que caracterizam todo um sistema, toda uma forma que a cultura adquire no período em questão. Sua proposta consistia em aceitar que esta cultura, por provir da natureza humana – “é o que o céu concedeu a natureza humana”, como está no Justo Meio – pertencia às relações ecológicas do mundo, tal como Confúcio propunha; por conseqüência, estes estados da matéria deveriam acompanhar os estados do Qi (a própria matéria bruta, em forma de energia), na mutação, que foram estabelecidas pelo sistema dos cinco agentes – wuxing. Assim, o tempo de uma dinastia é caracterizado – ou mesmo tornado – em escala macrocósmica, pelas tendências de um estado do Qi. Por isso, a dinastia Qin, que era regida pela água, foi absorvida por Han, que era Terra; e a violência destruidora foi substituída pelo terreno fértil da prosperidade pacífica. Século depois, Sima foi criticado, mas também desenvolvido: o estado das coisas não gera marcações cronológicas precisas para a transformação da cultura, mas se estrutura num movimento que pode ser, de modo razoável, manifesto num período determinado, classificado pela hegemonia de uma dinastia.
Ao estender o pensamento de Sima Qian, compreendemos que a história chinesa cuidou-se, até certo ponto, de delimitar de forma estrita o estudo da história. A criação destas “leis da história” e da cultura serviriam tanto de referência quanto como objeto de desconstrução. Isso talvez não seja uma novidade, claro: mas o que para os ocidentais tem um século ou mais, surgindo desde Ranke – o defensor da crença da "verdade histórica" – para os chineses é uma discussão que tem mais de mil anos. Só uma teoria razoável pode sobreviver tanto.
A história, portanto, acompanha as transformações da mutação para extrair dela os princípios que retém a centralidade, a unidade de uma civilização. Sima Qian, ao perceber isso, pretendeu identificar as propensões da mutação para compreender que fenômenos sustém, conservam ou desagregam um estado das coisas na sociedade – ou seja, o conjunto das relações dentro de uma temporalidade, que caracterizam todo um sistema, toda uma forma que a cultura adquire no período em questão. Sua proposta consistia em aceitar que esta cultura, por provir da natureza humana – “é o que o céu concedeu a natureza humana”, como está no Justo Meio – pertencia às relações ecológicas do mundo, tal como Confúcio propunha; por conseqüência, estes estados da matéria deveriam acompanhar os estados do Qi (a própria matéria bruta, em forma de energia), na mutação, que foram estabelecidas pelo sistema dos cinco agentes – wuxing. Assim, o tempo de uma dinastia é caracterizado – ou mesmo tornado – em escala macrocósmica, pelas tendências de um estado do Qi. Por isso, a dinastia Qin, que era regida pela água, foi absorvida por Han, que era Terra; e a violência destruidora foi substituída pelo terreno fértil da prosperidade pacífica. Século depois, Sima foi criticado, mas também desenvolvido: o estado das coisas não gera marcações cronológicas precisas para a transformação da cultura, mas se estrutura num movimento que pode ser, de modo razoável, manifesto num período determinado, classificado pela hegemonia de uma dinastia.
Ao estender o pensamento de Sima Qian, compreendemos que a história chinesa cuidou-se, até certo ponto, de delimitar de forma estrita o estudo da história. A criação destas “leis da história” e da cultura serviriam tanto de referência quanto como objeto de desconstrução. Isso talvez não seja uma novidade, claro: mas o que para os ocidentais tem um século ou mais, surgindo desde Ranke – o defensor da crença da "verdade histórica" – para os chineses é uma discussão que tem mais de mil anos. Só uma teoria razoável pode sobreviver tanto.
Recolha tudo que pode, ponha de lado o que é duvidoso, isso é o conhecimento.
Confúcio
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