Zapotzu convidou para jantar em sua casa um demônio, o macaco e a tartaruga.
Nessas ocasiões a cortesia é fundamental, já que ir a casa de um sábio é uma grande honraria. Até os animais e demônios sabem disso. Só os tolos esquecem.
Lá pelas tantas, a conversa acabou se dirigindo para uma daquelas curiosidades perigosas, mas irresistíveis, que só um deles poderia responder: o assunto era a morte. Depois de vários goles de vinho, ninguém se lembra quem perguntou, mas a questão era: o que acontece quando morremos?
O demônio, que trabalhava no tribunal do inferno, começou então a explicar:
- ah, é simples: julgamos as coisas por meios que poucos entendem, administramos justiça implacável, servimos ao senhor do Céu e quem merece, despachamos para o seu paraíso.
Zapotzu, o macaco e a tartaruga se entusiasmaram. Então, há paraíso?
O demônio, que estava de folga, resolver ser gentil e lhes ofereceu a seguinte proposta:
- bem, posso fazer assim: abrirei uma porta para o paraíso de cada um de vocês, mas vocês têm que voltar.
Os três concordaram avidamente. O demônio então pegou um pó que trazia consigo e jogou no chão, fez alguns sinais e três entradas luminosas surgiram. Os colegas entraram cada um na sua porta, e alguns minutos depois já estavam de volta.
- então, o que acharam? Perguntou o demônio.
- lamento, disse Zapotzu-, mas achei um tormento! Não parava eu de correr e pular, de saltitar como um louco, de comer famigerado, só via árvores e risadinhas ao meu redor, não tive sossego um segundo!
- pior pra mim! - disse o macaco – estava numa praia sem nada para fazer, só mar na frente, areia atrás, que horror!
- pois comigo foi o mesmo – disse a tartaruga. Me vi no meio de um bando de gente, de livros, discussões eruditas, música, nada de calma, nada de solidão. Tudo muito cheio...
Se entreolharam e perceberam que o demônio se enganara. Eles trocaram as portas e foram para os paraísos uns dos outros. Todos riram, e decidiram que não se pode confiar em demônios bêbados.
Moral da História: demônios entendem tudo de paraísos, mas não sabem administrá-los. Por isso que o caminho é sempre de cada um, sem atalhos.
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