História da China Antiga - 2000 (2004)
A aventura da China continua. Como a civilização indiana, é uma das mais antigas do mundo, com uma História que continua a evoluir desde sua gênese até os nossos dias. Esta é uma marca fundamental do Oriente: a antiguidade continua viva, e temos a oportunidade de vislumbrar as permanências dos tempos clássicos no pensamento, na cultura e nos hábitos. Não obstante o interesse científico que ela pudesse despertar pelo seu passado, a China é, além disso, uma das maiores nações dos tempos atuais. É o país que mais cresce economicamente, que tem a maior população, a língua mais falada no planeta, e um sistema de escrita que serve de base (e pode ser compreendido) por diversas outras nações que não falam chinês. Nos tempos passados, a China havia conseguido constituir um dos maiores impérios da humanidade se valendo de cavalos, flechas e um sistema burocrático eficiente. Teria sido também a sociedade tecnicamente mais avançada do mundo em vários campos até o século XVI, quando os europeus consolidaram uma série de avanços no ramo da ciência que inverteram a hierarquia de poder entre os Estados mundiais, estabelecendo o período das “grandes descobertas e conquistas” - embora uma parte substancial do que os europeus “descobriram” já fosse bem conhecido por outros povos.
O pensamento chinês se difundiu de forma poderosa por outras paragens; o confucionismo foi absorvido como ética social e de trabalho no Japão e Coréia; o Budismo, vindo da Índia, foi adaptado pela cultura chinesa, que empreendeu sua divulgação por vários outros países através de versões próprias, como a Chan (em japonês, Zen), sem contar o trabalho de várias outras escolas cujas discussões filosóficas antecederam em séculos seus similares europeus.
Mas então, a pergunta que fica é a seguinte: porque sabemos tão pouco sobre a China? Porque continuamos a ignorar a existência desta civilização, suas contribuições ao pensamento e a ciência mundial, e principalmente, seu ressurgimento e ascensão no mundo moderno? A explicação que podemos apresentar é simples e, no entanto, problemática.
O Ocidente conseguiu, no século XIX, empreender o desmembramento e a dominação das nações asiáticas e africanas. Este processo, marcado pela violência e pela avidez, pôs em cheque as realizações das culturas orientais, como se tais fossem “atrasadas”, “inferiores”, etc. criando um discurso marcado pelo racismo e pelo desconhecimento, e difundindo a falsa concepção de que as culturas ocidentais ofereceriam as ideologias predominantes do futuro mundial fomentando, por conseguinte, a idéia de que só seria interessante igualmente estudar e analisar aquilo que fosse europeu ou norte americano.
Não foi preciso muito tempo para demonstrar que esta concepção era totalmente falha: desde cedo, se os orientais se preocuparam em absorver elementos da cultura ocidental, foi tão somente para reforçarem suas próprias estruturas de vida. É o que observamos no caso do Japão, durante a primeira e segunda guerra, e no caso do Vietnã, da Coréia do Norte, entre outros. Tais processos de resistência, aos quais se somam a revolução comunista chinesa, a vitória da libertação da Indonésia e mesmo a independência da Índia nos fazem questionar se o que o Oriente absorveu, da cultura Ocidental, não foi somente aquilo que poderia ser utilizado em função da sua própria auto-determinação. E essa idéia parece ser procedente. Seria um engano acreditar que apenas dois séculos de dominação direta poderiam desarticular o desenvolvimento de culturas milenares, apagando suas manifestações e tornando-as um passado remoto. Mas é um erro pensar, também, que estas mesmas civilizações não se encontravam em momentos complexos de sua existência, e talvez mesmo de colapso, quando da chegada dos europeus em seus territórios; pois, se assim não fosse, dificilmente as mesmas teriam sido dominadas.
Há que se levar em conta, por fim, que toda uma conjuntura propiciou ao Oriente sua derrocada; mas também, que neste mesmo tempo, estes povos foram capazes de rearticular seus modos de vida dentro de um padrão que congraçava, habilmente, elementos de sua própria cultura com as novidades vindas do exterior, propiciando seu soerguimento nos dias atuais.
Mas são os elementos introdutórios da História da China que nos interessam neste livro: nosso intuito é percorrer, na antiguidade chinesa, o processo de desenvolvimento desta civilização, buscando observar o surgimento de uma série de instituições e práticas culturais que nos levem a compreender como se deu a construção de suas estruturas sociais, políticas e econômicas. Iremos analisar de forma sucinta o período que abrange desde a Proto-História até a constituição das dinastias e do primeiro grande império chinês, o Han, no século III a.C. - III d.C.
Esperamos, com esse nosso pequeno trabalho, suprir um pouco da carência que se existe no âmbito universitário quanto ao estudo das culturas orientais. Dentro de nossa proposta utilizaremos, ao máximo, livros e fontes que estejam em língua portuguesa e espanhola, objetivando facilitar o acesso ao estudo da cultura chinesa pelos interessados; mas, quando necessário, deixaremos indicados os textos em outros idiomas. Não é, de forma alguma, uma apresentação definitiva da História deste povo que, aliás, continua em construção; mas é uma proposta séria de introdução ao tema, que tem merecido mais atenção de nossa parte. Como afirmou o grande sinólogo Marcel Granet: “A civilização chinesa merece mais do que a simples curiosidade. Ela pode parecer singular, mas (é um fato) nela se encontra registrada uma grande soma de experiência humana. Nenhuma outra serviu de vínculo a tantos homens, durante um Período tão grande. Quem pretende ter o título de humanista, não deve ignorar uma tradição de cultura tão atraente e tão rica em valores duráveis” (1979).
Para acessar o Livro, clique em:
http://china-antiga.blogspot.com/
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