Tantra e Kama Sutra


Mundialmente conhecidos por suas disciplinas esotéricas, os indianos construíram uma vasta literatura do gênero cujo sentido e origem continuam, de certo modo, pouco acessíveis aos leitores de ocasião.

Um desses temas, que é tratado de forma muito rasteira no Ocidente tem sido a questão do prazer e do desejo, que envolvem a leitura de obras como o Kama sutra (o Sutra do Desejo) e da prática da Yoga Tântrica. Nesse trabalho procurarei investigar as origens e os possíveis significados que estes dois tópicos possuem, levando em conta seus aspectos intelectuais e sociais.

Em princípio, analisemos o Kama sutra, ou o Sutra do desejo,[1] considerado por muitos a “Bíblia do prazer” indiano. Sob uma primeira perspectiva, bastante Ocidental, oportunamente inglesa (e quiçá, Vitoriana), este livro foi considerado como uma obra que continha o conhecimento mundano produzido por uma sociedade onde o prazer era livre, fruto de uma sacralização do sexo orgiástico praticado por certos grupos sociais.[2]

Tal abordagem fazia um certo sentido na época, quando os indólogos começaram a analisar, em caráter inicial, os fragmentos literários sobre a formação do universo presentes no corpo dos textos sagrados. Em certos trechos afirma-se que Kama (o desejo) era um deus, pois só um deus pode influenciar outros deuses. Os deuses sentem desejo, daí a força de Kama no celeste. O próprio deus Shiva praticava uma ascese yóguica para controlar a influência de Kama e não mais sentir desejo, ou ao menos dominá-lo.[3] Quando Brahma criou o mundo, ele assim o desejou, logo, Kama estava lá presente.[4] Entende-se por estes exemplos que a questão do desejo se vincula como força motriz de ações místicas, e conseqüentemente, sociais e intelectuais. Observamos essa mesma forma de interpretação quanto ao desejo e do prazer quando analisamos, por exemplo, alguns extratos dos antigos Puranas indianos. No Srimad Bhagavatam, que tomamos emprestado para ilustrarmos o caso, Krishna, sabendo do amor de suas devotas por sua divindade, atende seus desejos e as satisfaz sexualmente.[5] Conta igualmente a tradição hinduísta a história de Sudarshaná, que sendo inspiração para muitos hindus, causa diversos problemas de interpretação para os ocidentais:

Querendo se livrar do reino da morte, Sudarshaná quis destacar-se como o homem mais hospitaleiro do mundo. O deus Dharma, vendo tal atitude, disfarçou-se de monge e lhe pediu pousada. Sudar lhe deu tudo o que podia e ainda cedeu a esposa, dispondo-se a sair de casa caso atrapalhasse seu conforto e prazer. Tal foi a sinceridade de Sudar que Dharma lhe concedeu a eternidade do nome, pelo qual sua história então nos é lembrada.[6]

No entanto, investigando mais atenciosamente, poderemos constatar que a sociedade Hindu - apesar dos seus aparentes e extravagantes pontos de vista e costumes, - possuía, de fato, uma tradição e uma série de mecanismos pelos quais podemos duvidar desta primeira idéia. Em verdade, as orgias relativas a certos cultos[7], tanto quanto a prática da hospitalidade encontrava limites na disposição humana de cumpri-las. Além disso, em um angulo pouco conhecido por nós, a sociedade indiana de castas era repressora e machista, não permitindo livremente conluios amorosos de caráter aberto sem antes comentá-los ou aprová-los. Para ilustrar este ponto de vista, temos as diversas citações do livro Contos do Vampiro em relação à diversos tipos de situações amorosas, tratadas de forma problemática e restritiva[8]. Nada mais forte porém do que o Artashastra, da Kautila, tratado político-jurídico que determinava, ilustrava e ensinava como deveria um governante reinar e que leis adotar[9]. Numa delas cita Kautila:

que o homem que desvirginar uma mulher antes de casar ou sem casar deve pagar ao seu pai o dote correspondente. [10]

Tal situação ocorria pois os casamentos eram arrumados e limitados as castas, onde o dote era fator importante e vender as filhas podia ser um bom negócio.[11] Neste contexto, com entender portanto a formulação do Kama Sutra? Como compreender uma sociedade supostamente devassa ou libertária com uma lei tão rígida sobre as relações sociais?

A Segunda hipótese é de que o livro teria sido escrito justamente para evitar tais problemas conjugais... ele ensinaria como escolher a esposa, o que fazer para obter mais prazer, as regras de convivência, a permissão do concubinato, etc...[12] Isto estaria diretamente ligado a questão do desejo, já que na sabedoria indiana ele é um dos 4 pilares da vida: Artha, Dharma, Kama e Moksha. Nesta ordenação, o Kama aparece como o estímulo, ou uma ciência da busca, que deve ser controlado e filtrado pelo Artha (condução dos deveres sociais mundanos) e pelo Dharma (lei religiosa) que permitem a Moksha (libertação – por vezes associado igualmente à devoção). Desejar, portanto, seria inerente ao homem, mas controlar o desejo seria um imperativo[13]. Assim, o Kama sutra nada teria de desregrado ou impuro: muito pelo contrário, era um bom manual para que se cumprissem os deveres sociais e espirituais, sem o que ele poderia ser tido como um texto apócrifo, herético, excluído e nem um pouco sagrado.

Numa terceira análise, porém, podemos articular o surgimento (ou mesmo a divulgação) do Kama Sutra com o desenvolvimento da Yoga Tântrica, curiosa prática disciplinar que contrariava alguns princípios estabelecidos da sociedade indiana.[14] Nesta visão, podemos inferir uma possível função do livro como um manual, sim, mas de conteúdo sagrado cuja acessibilidade ao texto dirigiria o praticante à outros níveis de consciência. Vejamos como;

Dentro das várias escolas de disciplina corporais indianas[15], o Tantrismo foi encarado, por vezes, como perigoso e subversivo. Isso resultava dos princípios conhecidos aos quais os tantristas se entregavam, que pautavam-se na idéia de que os deuses podiam ser encontrados pelo conúbio sexual e a energia (prana) controlada pelo domínio do Kama, buscando desta forma aperfeiçoar o corpo e a mente e criando, a partir disso, práticas e teorias que terminavam por ir de encontro diretamente à ideologia das castas indianas. Como Afirma Louis Renou (1971):

O tantrismo, surgido numa data indeterminada durante o primeiro milênio depois de Cristo, invadiu gradualmente todas as formas religiosas. Não se trata de uma religião nova, mas de uma coloração nova atribuída a fatos que constituem hinduismo comum, mas por vezes só nos são atestados precisamente sob o aspecto tântrico. Foi possível caracteriza-lo como uma enorme inversão. (L. Dumont), derivando do ideal do renunciante por uma espécie de antífrase. Encontram-se sinais disso na mitologia e cosmogonia, antes de todo o ritual. O germe remonta com freqüência ao Veda, nomeadamente ao Atharvaveda, que se pode considerar um hinário pré - tântrico. No entanto, a sua presença descortina-se naturalmente onde a prática usual do culto e invadida, submersa, par elementos que lhe modificam tanto a forma exterior como a significação profunda. Aí, entra-se no vivo do esoterismo indiana. Desenvolveu-se uma semântica oculta, cujo mistério, próprio dos «heróis», e mantido pelas paçus ou “feras” que são o comum dos fiéis. A sua linguagem denomina-se “crepuscular”, a qual adquire depois um poder quase ilimitado: é sinal e coisa significada simultaneamente. A fórmula desencadeia realizações sobre-humanas, podendo conduzir a libertação imediata. O tantrismo é, acima de tudo, um mantra-çastra ou «ensinamento da fórmula-sagrada». É naturalmente uma religião iniciatória que se transmite de mestre para discípulo: a iniciação, de que se distinguem quatro formas, da lenta a instantânea, reveste-se de aspectos complexos, como a “aspersão completa” descrita pelo Mahanirvana, a qual dura de uma a nove noites e sucede a uma série de etapas. Não há, de resto, uma literatura, nem um corpo de doutrinas, mas seqüências didáticas, reunidas em obras por vezes tardias, com rastos que se confundem. A contribuição erótica predomina, sobretudo nas praticas «de esquerda», consistindo o princípio em exaltar aquilo que para o indivíduo normal é ilícito («aquilo que no mundo for rebaixado será exaltado, e rebaixado o que no mundo for exaltado», reza o Kulârnava) e depois acumular em si o potencial que a energia sexual contém. Mas estes ritos sexuais carregam-se de valores simbólicos: o ato humano é uma participação na consciência divina. Assim, durante o pancatattva (“as cinco entidades”), a mulher que se aborda par meio dos cinco m (madya “vinho”, mâmsa “carne”, matsya “peixe”, mudrâ “gestos” e maithuna “contacto carnal”) não é senão a Energia divina encamada num ser humano. O maithuna, elemento mais importante, consuma um casamento místico: é a “homenagem do círculo”, assim denominado porque participa nele um grupo de homens e de mulheres. A mulher também pode ser concebida e tratada como um ídolo divino. Há uma série de ritos macabros de caráter mais ou menos mágico, que se situam nos lugares em que se consuma a “destruição do Eu”, ou seja, nos cemitérios. Mas há igualmente práticas aperfeiçoadas, substituídas, próprias dos tantristas da «via da mão direita».
Entre os métodos sexualistas apresentados pela via tântrica encontrava-se, por exemplo, a adoração à mulher, como forma de estimular, desenvolver e controlar o desejo, o que proporcionaria mais prazer tanto ao homem como a sua companheira. Num hino tântrico, afirma-se a devoção a deidade feminina suprema;

Em meio ao oceano de Néctar, onde encoberta por grupos de árvores celestialmente desejosas se encontra a Ilha as Gemas Preciosas, na mansão das jóias desejosas com seu grupo de árvores nipa, num leito composto de Shiva e demais deuses, teu assento um colchão que é Shiva Supremo - alguns poucos felizardos te adoram, cheios de consciência e ventura. [...] “Estende, ó senhora, a mim, teu escravo, um olhar compadecido!" - quando alguém te quer louvar, pronuncia as palavras "tu, ó senhora", e nesse momento lhe concedes um estado de identidade contigo, com teus pés iluminados pelas coroas de Vixnu, Brama e Indra (Renou, 1964).

Exercícios ascéticos eram acessíveis a ambos os sexos. Gurus estimulavam a meditação, a concentração e o estudo de literatura sagrada junto com práticas sexuais controladas, posturas de yoga e alimentação especial. Regras de relacionamento eram derrubadas. Numa sociedade machista e hierarquizada isso era inconcebível. Mas nas castas mais baixas, no dia-a-dia, tanto homens quanto mulheres que comandavam duramente seus lares flexibilizavam essas noções, buscando no aprendizado de disciplinas esotéricas um caminho acessível e inteligível de libertação, sendo responsáveis por conseguinte pela difusão dessa prática (Bharati, 1975).

Alias, sendo uma forma de prática religiosa, o tantrismo, que fugia ao controle dos brâmanes mais tradicionais, acabava sendo considerado marginal - pior do que tudo isso, os praticantes do tantrismo subvertiam esta mesma sociedade de castas mantendo relações sexuais com todo o tipo de gente e produzindo filhos entre pessoas de castas diferentes. A inserção social desse grupo, portanto, de sangue múltiplo, seria assaz complicada.[16] Um comentário de Masson Oursel é esclarecedor sobre a nossa dificuldade em compreender estes múltiplos aspectos da visão sexualista tântrica:

Tinham eles outrora (os tantristas) uma reputação bastante duvidosa: abstrusos, obscenos. São, por certo, de extremo tecnicismo; tratam, por outro lado, de Ioga sexual e simbolismo sexualista, sem nenhum pudor mas sem a menor intenção corruptora. Não censuremos à Índia seu paganismo, não nos tomemos incapazes de entrever um aspecto essencial dos seus ritos. [...] A cortesã não é mais maldita na Ásia do que na antiga Atenas; a esposa não é menos respeitada do que na República romana, e a Índia, muito mais do que qualquer outro povo indo-europeu, cultivou o prestígio da Mãe inicial; as três Índias são consideradas não como uma pátria mas como uma "mátria". Ainda em nossos dias, depois de Ramacrixena, quanto um Tagore, um Aurobindo reverenciaram com um mesmo zelo a arcaica deidade anterior aos deuses, de quem é filha "mother Índia"! [...] O poder se manifesta pela ação; o absoluto aparece na sua manifestação, a atividade é feminina em relação ao agente. Tal é o sentido fundamental do termo shakti. E as seitas "sacta" ensinam que, para atingir o absoluto, é preciso ter penetrado, assimilado sua expressão: "o eterno feminino". Só pode ultrapassar a geração quem rompeu seus mistérios; a Ioga sexual, que tachamos imprudentemente de voluptuosa, é um rito místico, no qual o homem se deve libertar e não escravizar-se. [...] Nada há de metafórico, apesar do simbólico, nessa salvação que o tântrica realiza por sua própria ação. Salvação que exigia não só perspicácia búdica como o domínio dos comportamentos, tão adequadamente obtido através da Ioga; o tantrismo adota em plena consciência essas duas exigências como complementares. Cada uma delas, separadamente, seria vã, e a simples devoção mais vã ainda, embora lúcida. [...] (Masson-Oursel, 1964).

De fato, como exigia prática e esforço, o Tantrismo não sumiu mas teve alguns breves momentos de glória[17], sendo aos poucos absorvido com mais uma Yoga. Hoje seus adeptos ainda são, por vezes (e, de certa forma) incompreendidos, mas aceitos. Daí, podemos questionar então, dentro da 3a hipótese: seria o Kama sutra não apenas um manual do prazer, mas um texto sagrado dedicado a sacralização do “amor livre” tântrico? Seria um texto surgido da necessidade (ou talvez, utilizado e divulgado) por uma escola espiritual “alternativa”? É difícil esclarecer este ponto, tendo em vista que mesmo o Tantrismo aproveitou-se de outros textos (tais como os Tantras antigos) que não são necessariamente uma literatura de caráter sexualista: “Assim, a inspiração última do indianismo não afundou no vago nem no obsceno. Aumentou a experiência através de experimentações, cuja audaciosa positividade mal entrevemos. Empreendimentos à margem da ciência ocidental, mas prolongados, graças ao que a Ioga revela sobre as possibilidades que o organismo vivo fornece. Houve assim temerárias empresas suscitadas por esse sistema shakta no qual se acham reunidos paradoxalmente Buda e Shiva, ladeados cada um por uma companheira, sua "energia" (shakti). Expressões simbólicas, expressões verbais de esforços, mas não palavrório. Possam aqueles que não levam a sério os verdadeiros iogues assistir um dia aos seus comportamentos” (Masson Oursel, 1964).

Assim sendo, devemos observar o Kama sutra como de fato ele se compreende: um livro que manifesta necessariamente uma espécie de conhecimento que rege múltiplas relações sociais na Índia (e talvez no mundo) desde a Antigüidade. Com certeza, Vatsayana (o autor do Kama Sutra) deve ter observado orgias sagradas para melhor compreender o sexo em todos os seus aspectos. Deve ter freqüentado igualmente prostíbulos, lugares tidos como sagrados na Índia para melhor saber sobre as técnicas do prazer[18]. “Proíbam os lares de prostituição e em breve haverá prostituição em todos os lares”, teria dito recentemente um brâmane à Neru, quando este pensou em fechar as casas de prostituição na Índia, após o processo de independência. Mas as conclusões que dele podemos inferir, em hipótese alguma construíram uma obra de significado vazio: fosse cumprindo um dever de instruir casais, fosse buscando prazer como superação do “eu”, Vatsayana deixou um legado de múltiplas interpretações sobre as verdades imutáveis e sempre discutíveis que permeiam o amor e o sexo, e que adquirindo força ao longo dos séculos demonstram sublimes mensagens que se resumem, na eterna busca epstemológica do homem, numa máxima expressa por vezes na primeira página[19] de sua obra:

"Quem ama não precisa ler este livro".

Bibliografia
DANIELOU, A. Shiva e Dionisos. São Paulo: Martins Fontes, 1995
BHARATI, A. The Tantric Tradition. London: Rider, 1975
KAUTILA, Artashastra. Brasília: UNB, 1996
MASSON-OURSEL, P. O Ioga. Lisboa: Difel, 1964.
PRABHUPADA, S. O Livro de Krsna. São Paulo: Bhaktvedanta, 1977
SAGNE, C. O erotismo sagrado. São Paulo: Martins Fontes, 1986
RENOU, L. O Hinduísmo. Lisboa: Arcádia, 1971.
RENOU, L. O Hinduísmo – Antologia de Textos Clássicos. Rio de Janeiro: Zahar, 1964.
RENOU, L. Contos do Vampiro. São Paulo: Martins fontes, 1995
VARENNE, J.M. O Tantrismo. São Paulo: Martins Fontes, 1986
VATSAYANA, M. Kama Sutra. Rio de Janeiro: Zahar, 1988
ZIMMER, H. As Filosofias da Índia. São Paulo: Palas Athena, 1986

[1] O Kama Sutra teria sido escrito entre os séculos I-V d.C., por Vatsayana. Essas datações são bastante problemáticas na História Hindu, em virtude da falta de referências diretas. O problema é bem abordado no estudo de Panikkar (p.34-35) presente na versão do Kama Sutra utilizada nesse texto.
[2] Esse problema fica claro quando da publicação da primeira tradução de Richard Burton, no século XIX, em caráter restrito. Apesar de ser uma das melhores traduções até hoje existentes, na época em que foi publicado, o livro não vinha nem com o endereço da Sociedade que o imprimiu, esta fundada também pelo mesmo Richard Burton e de aparência secreta. (ver Kama Sutra, p.10)
[3] ver Danielou (1995: 143); ele narra alguns trechos em que Kama é convocado para atrair Shiva e casá-lo com Parvati. Num primeiro momento, Kama é destruído pelo poder de Shiva, mas afinal ele é vitorioso.
[4] E Kama foi logo uma das primeiras entidades que teria surgido, segundo o Shiva Purana. (ibidem, 142). Kama teria feito confusão entre os deuses e provocado o descontrole das funções emocionais entre os mesmos. No entanto, existem algumas variações sobre o mito dos surgimentos dos deuses; no Rig veda e nos Upanishads por exemplo, que são bem anteriores ao Shiva Purana, encontramos versões diferentes para o mesmo tema. O importante, porém, é saber que o discurso que envolve Kama foi , a partir do século IV a.C., aceito e difundido na sociedade.
[5] Ver os capítulos 21-23 do Livro de Krishna, um extrato do Srimad Bhagavatam.
[6] Esta história esta presente no Linga Purana, Livro I capítulo 29. Danielou (1995:192) reproduz também este trecho do conto como forma exemplar de hospitalidade.
[7] Ver o comentário de Jean Varenne, sobre os banquetes tântricos do Shivaísmo in Tantrismo, p.137.
[8] No Vetalapancavimsatika, traduzido como Contos do Vampiro ou Contos do rei Vikram, as histórias com essa temática são variadas, mas a última dá uma atenção especial ao problema dos casamentos (Como o pai casou com a filha e o filho casou com a Mãe), da versão citada na bibliografia.
[9] Tratado da época imperial dos Maurya, do século IV a.C.
[10] Artashastra, livro 4, cap. 12
[11] Este ponto refere-se apenas à questão da liberdade individual. Em verdade, no Livro 3 do Artashastra temos toda uma legislação específica para regular as relações de matrimônio.
[12] Panikkar cita que Vatsayana poderia ter sido influenciado pelo modelo do Artashastra para redigir seu livro, querendo construir um manual, mas obviamente sem a frieza de Kautyla, autor do mesmo. (p.35, Kama Sutra)
[13] Isso fica claro no antigo texto Manavadharmashastra, ou Leis de Manu. Desejar é natural do homem, mas as leis são criadas para controlar estes impulsos.(Livro 4, Cap. 2)
[14] Assunto abordado no primeiro capítulo do livro de Varenne, 1986.
[15] Para saber mais sobre, ver Zimmer (1986). O Tantrismo teria surgido, provavelmente, no alvorecer das escolas filosóficas indianas durante o século IV a.C., mas isso não é totalmente comprovado.
[16] 1o capítulo de Tantrismo, de Varenne (1986)
[17] No século X, um pequeno reino da Índia teria adotado o Tantrismo como prática oficial, tendo construído os fabulosos templos de Khadjuharo cujas fachadas são repletas de imagens erótico-sacras.
[18] Ver Kama Sutra, no estudo de Pannikar, p.47
[19] Essa citação aparece em algumas versões do Kama Sutra, embora não esteja presente na versão aqui utilizada. Pode ser uma construção poética posterior, adicionada à obra ela algumas edições. Mas tomei a licença de aqui utilizá-la, por acreditar que ela sintetiza bem os princípios contidos no texto e ainda, de ser bastante dignificante.

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