Sim, este texto é puro “filosofês”. Para aqueles que não gostam de temas do gênero, começa o martírio claudicante das linhas confusas, obscuras e ininteligíveis. Aliás, gostaram das palavras difíceis? É verdade, em duas linhas pode-se afastar de um texto os mais curiosos leitores. Mas..........permitam que eu inverta o jogo, apenas um pouquinho. Em primeiro lugar, o quanto vocês já leram, de fato, sobre filosofia ou história antiga, para saber se o assunto realmente pode ser interessante? Em geral, não gostamos de um assunto antes mesmo de começar a tocá-lo com os olhos, encarando a tarefa do estudá-lo como um tronco de senzala, o verdadeiro açoite da alma. Assim é que conseguimos viver numa sociedade onde as pessoas passam um ano todo sem vislumbrar a presença de um livro na cabeceira da cama (e neste ponto, considera-se já um grande lucro ler o jornal cotidiano). Mesmo os estudantes preferem satisfazer-se com fragmentos de livros, e muitos mal conhecem a biblioteca de onde estudam – e aqui, vale a sugestão jocosa de vendermos cerveja junto a mesma, por isso facilitaria sua localização.
Por outro lado, voltemos as linhas complicadas no início do texto......por qual razão estas palavras lhes são estranhas? Em algum momento os leitores já se incomodaram em perceber que não sabem algo que lhes está sendo dito? Diz-se que a grande arte da esperteza consiste em “dar um jeito” nas coisas sobre as quais não temos controle direto – e se vale a experiência de um autor vindo da terra onde muitos de vangloriam de serem “espertos, malandros”, então vai aqui um ditado nativo: “se malandro fosse mesmo esperto, então seria inteligente por esperteza”. Todos que já tentaram se “dar bem” em alguma situação sabem que nem sempre o expediente funciona. Pior: quando pegos em flagrante no erro, pouco nos resta de um tantinho de moral para reclamar. Disso podemos concluir que nem sempre nos saímos bem em muito do que empreendemos sem termos um mínimo de base.
Até aqui, portanto, os leitores já devem estar intuindo onde quero chegar. Sim, estou falando de estudar mais, um pouco mais, sempre mais. E até agora não disse absolutamente nada que fosse convincente para nos demover da preguiça bestial que toma nosso corpo quando nos aproximamos – intuitivamente ou conscientemente – daquele objeto sagrado que muitos chamam de “livro”. Devo reconhecer que o desconforto não é apenas visual; não lemos só com os olhos e mãos, lemos com o corpo todo. Quando o cansaço nos toma, os olhos se fecham, quando a mente se turva, as palavras não entram; e quando não queremos, dificilmente acontece.
Resolvi, pois, recorrer a um expediente um pouco diferente para tentar convencê-los de que talvez valha a pena estudar. Não vou buscar ameaças dogmáticas ou justificativas de mercado (apesar de que as vezes elas funcionam bem), essas vocês já ouviram muitas vezes. Vou apresentá-los, na verdade, a um sábio que viveu há uns 2500 anos atrás na China Antiga, chamado Confúcio. Acho que ele tinha algumas boas razões para vocês se dedicarem um pouco mais ao que fazem: afinal, este emérito pensador foi (ou é) um dos principais responsáveis pela continuidade da antiquíssima sociedade chinesa, singular civilização que sobrevive em nosso planeta desde a época dos faraós até os dias de hoje. Só por isso creio que já vale respeitá-lo, mas ainda tem mais: para entender suas propostas, não é necessário vincular-se a nenhuma religião ou crença. Ele não foi um “guru”, foi um professor. O que ele ensinou? A necessidade de estudar sempre para aprimorar-se. Porque? Vejamos então.
Confúcio acreditava que valia estudar porque, como seres humanos, podemos evoluir sempre. Evoluir significa aí o que os leitores quiserem que seja: transcender, subir na vida, conhecer, enfim....simplesmente, ir adiante em algo. Mas deve-se iniciar esta marcha, porém, de forma consciente do que se almeja alcançar. Isso significa uma grande diferença em relação ao que temos feito cotidianamente. A primeira pergunta seria: gostamos do que fazemos? Isso é bastante sério, e neste ponto Confúcio foi bastante pragmático: “arrume um trabalho que você ame e não terá que trabalhar um único dia sequer em toda sua vida”. Ou seja, se uma má vontade absoluta nos invade na hora de lidarmos com nossas tarefas estudantis, talvez estejamos seguindo o caminho errado. É normal que isso aconteça, posto que muitas vezes somos guiados em nossas escolhas acadêmicas por razões financeiras ou familiares. Mas até onde conseguimos levar adiante, com firmeza e dedicação, uma profissão ou caminho que desde a partida se indispõe contra a nossa natureza? O mestre disse: “onde vá, vá de todo o coração”. Há dois milênios ele já sabia que não adianta a gente insistir em algo que não gosta – e visto por este lado, é compreensível que, as vezes, não nos dediquemos inteiramente ao que fazemos.
No entanto, se por algum motivo os leitores assumiram que estão fazendo que acham certo, então, melhor fazer bem. E isso significa, consequentemente, estudar. “Estudar sem pensar é inútil, e pensar sem estudo é perigoso”, porque “Uma pessoa de bem exige tudo de si mesma, [mas] a medíocre espera tudo das outras”. Estudar, portanto, não é em essência uma obrigação: é, de fato, um exercício que temos de fazer para nos melhorarmos naquilo que queremos alcançar e saber; “A mente do ignorante vive numa noite sem lua”, disse o mestre. O estudo, pois, parte do nosso íntimo, só vai adiante se quisermos.
Nesta hora, porém, é que vale aplicar um pouco de esforço. “Em todas as coisas, o sucesso depende do quanto nos prepararmos previamente”, disse o sábio. Ler, estudar com afinco, desejar saber mais, isso deve ser para nós um mister e um prazer. Se não o for, melhor mudar de área – pode-se ser feliz em qualquer coisa, exceto no lugar errado: “por mais longe que a nossa alma vá, o coração sempre irá mais além”.
Este breve apanhado de frases típicas, facilmente encontráveis num bom biscoito da sorte, podem aparentemente não nos mostrar nada de muito novo. Mas lembrem-se: foram escritas por alguém que, depois de mais de 2000 anos, foi raramente alcançado em sabedoria e pertinência. Aliás, seus ditos ainda valem para hoje: quem de nós consegue a mesma façanha? Ao decifrar a maneira como ser humano pensa, Confúcio deu-lhe uma chave para continuar existindo, o estudo. Somente assim se preserva a vida, somente assim também um ser humano se realiza e se sustenta a sua civilização. A China é um exemplo vivo da eficácia de sua filosofia pois, geração após geração, este povo mantém o seu inexorável processo de continuidade através da paixão pela educação e pelas tradições antigas. Confúcio é um bom exemplo de que estudar significa, antes de tudo, ser feliz. Não se pode ser feliz sem se ir adiante, e vice-versa. Como disse o mestre, apenas dois tipos de pessoas não mudam de atitude depois do estudo: “somente o sábio e o ignorante nunca mudam de opinião”. Se você entendeu que um sábio é igual a um ignorante, melhor estudar um pouco mais.....
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