Este realmente é um "post", tendo em vista que procuro manter a página somente com textos acadêmicos, mas creio que o comentário de agora se faz necessário.
Aconteceu ontem, numa das raras vezes que eu vejo a TV. Estava em um restaurante, e passava o "Fantástico" - que pra mim, não tem nada de fantástico. Era uma reportagem sobre apreensão de passarinhos silvestres, capturados ilegalmente e submetidos a condições terríveis. Algo em torno de 9 em cada 10 morriam. O redator da legenda para necessidades especiais tratou, ainda de lascar um "cassados" na floresta (ops!)
Tais reportagens são usuais para mostrar a miséria do mundo, e do egoísmo humano. O que não se pode perder de vista é o que veio depois.
Uma foca pintora! Sim! Tão logo acabou a reportagem dos passarinhos capturados, uma foca americana mostrava seus dotes artísticos. Alguém percebeu que ela foi capturada (ou criada em cativeiro, filha de pais capturados), escravizada e mantida como objeto em um aquário americano qualquer? Afinal, qual é o limite para legitimar os maus tratos com os animais? Não estaria ela muito melhor na sua praiazinha, tranquila e feliz, se reproduzindo?
Em que momento deixamos de constatar esta incrível contradição aparente? Animais viram souvenirs, e no outro, é bom tê-los trancafiados em parques ou zoológicos, contanto que eles sejam educados e bem tratados. Há alguma lógica nisso? Creio que aquela, somente, de legitimar tais explorações. Há que se pensar; quer dizer que, se os passarinhos forem engaiolados, mas bem tratados, então podemos aceitar esta privação da liberdade sem problemas?
Não serei hipócrita, pois como carne. Disso resulta que, se eu quiser ser coerente, devo aceitar a caça de animais silvestres também, ou, voltar a ser vegetariano. Mais; devo aceitar igualmente que a submissão desses animais faz parte da natureza - tal como nós, seres humanos, somos submissos aos mosquitos e bactérias.
Assim sendo, creio que só posso defender, unicamente, a razão do discurso. Que ninguém se passe por defensor da causa ecológica, se não é capaz de fazê-lo com clareza. Vamos tratar bem os animais que criamos, e é só. Não vamos trancafiar o pobre do passarinheiro, que tira algum sustento vendendo os bichinhos lá para fora. Melhor criarmos todos eles - passarinhos, focas, onças, jacarés e o que mais for-, aumentando seu número e fazendo um bom dinheiro com isso, se eles realmente são bens vendáveis. Se talvez for impossível acabar com a crueldade (um conceito nosso, humano), ao menos podemos acabar com a hipocrisia e com a má fé - um hábito igualmente nosso, também - ou não podemos? Ao percebermos o discurso do Programa Fantástico, percebemos que não há qualquer tipo de coerência, senão aquele que defende a sua própria lógica interna; ouça o que estamos dizendo porque está certo. Não é necessário fornecer instrumentos de reflexão; ela mesma fica a "critério da audiência". Quantos, porém, estão preparados para fazê-la?
Mas a ignorância, essa sim, é uma opção!
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"Gosto de peixe", disse Mêncio, "e gosto igualmente de perna de urso. Se não posso ter as duas coisas, renuncio ao peixe e como a perna de urso. Se aprecio a vida, prezo também a justiça. Se não conseguir obter as duas, renuncio à vida e atenho-me à justiça".
"Aprecio em verdade a vida; mas há coisas que prezo mais; em conseqüência, não procurarei conservar a vida por meios indignos. Aborreço em verdade a morte; entretanto, há coisas que abomino mais; logo, em certas ocasiões, não me esquivo a calamidade donde me pode resultar a morte".
"Se entre as coisas prezadas pelo homem, nenhuma lhe fosse mais cara do que a vida, porque não usaria ele de todos os meios ao seu alcance para a preservar? Se, entre as coisas que o homem detesta, nenhuma lhe parecesse mais abominável do que a morte, porque não faria ele o possível, para evitar as calamidades que lhe podem ser fatais?"
"Mas, tal como é o homem, há casos em que, por certos meios, ele poderia conservar a vida. Contudo, não os emprega; nem lhe faltariam certos recursos para se esquivar às calamidades mortais; e ele não os utiliza".
Mengzi
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