Do conhecimento das coisas

Se pudermos acreditar nas antigas histórias, Fuxi, Nuwa e Shennong foram os primeiros sábios da humanidade. Inventaram os guas, o Bagua, o fogo, as medidas, a agricultura, os primeiros instrumentos e mais uma gama de outros inventos ou descobertas.

Depois, veio Huangdi, a quem se atribui a bússola, a medicina e mais algumas invenções.

Tivemos ainda Dayu, que controlou as grandes calamidades da Terra por meio de diques, canais, barragens e represas, depois de um longo e laborioso trabalho.

Na época de Confúcio dominavam-se técnicas fabulosas de metais, e se realizavam grandes empreendimentos públicos; séculos depois, mesmo os Qin aperfeiçoaram as ciências, e na época Han surgiram ainda descobertas notáveis, como o leme de popa ou mesmo o papel (que, até onde se sabe, era mais antigo do que isso – mas Cai Lun que finalmente apresentou uma fórmula definitiva à corte). Além deles, Zhang Heng foi um notável investigador da natureza, sendo um astrônomo e geógrafo de marca maior – foi ele quem inventou, entre outras coisas, o sismógrafo.

A lista de criações chinesas não para por aí: então, porque um dia a Terra do Centro do Mundo caiu diante do estrangeiro?

Porque quando se abandona a investigação das coisas, um povo fica acostumado confortavelmente com o que tem; quando os estrangeiros dominaram o país, como fizeram os Qing, eles lutaram contra os novos saberes, pois tinham medo que eles fossem usado contra eles; isso foi fatal, porque depois vieram os Europeus, e mesmo sendo em menor número, submeteram a civilização justamente com os meios que aprenderam dela: a bússola, a pólvora, o leme. Quando um governo luta contra a ciência, ele age como um paciente que recusa um remédio, mesmo sabendo que tem a doença.

Um governo ruim ensina as pessoas que a ciência não vale muito, e as pessoas aprendem, então, que são eternas vítimas das circunstâncias. Isso é um erro. Qualquer um pode alterar sua vida e ser um sábio. Ser um sábio consiste em investigar sempre as coisas; e assim, ao investigá-las, ele adquire conhecimento e protege não só a si, como a todo o seu povo, dos males que os ameaçam.

Foi assim que os países do oeste conseguiram, mesmo sendo pequenos, grandes feitos. Enquanto a Terra do Centro do Mundo pensava assim, ela comandou sua própria existência; quando se perderam na lassidão arrogante, foram dominados humilhantemente.

A lição que se extrai disso é: que em qualquer lugar do mundo onde existam sábios pensando, as nações podem se proteger, se preservar e se manter. Isso vale para todos, e a China retomou agora seu curso. Como alguém pode imaginar que isso é dispensável?

Há um segundo aspecto que se deve saber sobre o conhecimento: um discípulo de Confúcio disse, em uma oportunidade, que o caminho era bom, mas não sabia se conseguiria segui-lo; Confúcio disse: “e não irá; apenas quem começa sabe quando parar; mas você já parou antes, e fixou seu limite”. Isso significa que as pessoas preferem, muitas vezes, tratar-se como vítimas da sociedade, do que empreender o duro esforço para alcançar o conhecimento; invocam seu fracasso pessoal como a pena de um destino inexistente, e alegam sempre mil dificuldades para fazer o que quer que seja. Quem age assim, terá sorte se na velhice encontrar abrigo e amparo, pois sempre dependerá de outros. O sábio, porém, estuda para ter o controle de sua própria vida, e das opções que fará. É justamente isso que os ignorantes não compreendem de modo algum.

Por fim, há um terceiro aspecto que deve ser tratado na busca do conhecimento: ele é correto ou não? Como já foi dito muitas vezes, não há um Bem ou Mal em absoluto, mas aquilo que, no geral, é mais ou menos apropriado. Sendo assim, deve-se ter em mente que a construção de um saber deve voltar-se ao humano, e ao prolongamento de sua vida. Do contrário, deve-se pesar muito bem as conseqüências de um invento, de modo a saber se ele poderá ser mais ou menos benéfico. Lembremos, contudo, que o tempo da existência é agora, e que a percepção da vida se dá enquanto estamos vivos; deste modo, nenhum conhecimento pode ser impedido ou promovido por uma concepção de forças além daquelas que podemos constatar.

Por estas razões, o sábio pondera sobre o que estuda, mede as consequências e os desafios, e decide o que é mais apropriado.

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