Todos os caminhos buscam o princípio理. Tal como os escritos e as obras de arte, os caminhos são meios para atingir O caminho, que é o princípio em si. Cada pensador imaginou seu método, e cada um é uma manifestação, na mutação, melhor ou pior acabada do que as outras. Por isso, existem vários caminhos.
O caminho dos caminhantes, ou daoístas, é bom. Ele ensina a se desprender das coisas da mutação. Propõe a espontaneidade íntima, e afirma poder entrar em contato com os espíritos. Pratica a alquimia, que supostamente prolonga a vida. O bom caminhante sai deste mundo, e vira um asceta.
O caminho dos moístas é bom. Prega que devemos ouvir o povo, ter uma vida simples e regrada, acabando com a luxúria e defendendo os mais fracos. o bom moísta constrói uma comunidade.
O caminho dos legistas é bom. Ele afirma que são necessárias leis firmes, que regulam as atitudes humanas, estabelecendo assim a harmonia. O bom legista é um funcionário público dedicado, e um advogado implacável.
O caminho dos nominalistas é bom. Ele ensina a pensar de modo profundo e astuto, e quando bem conduzido, pode levar à reflexão. O bom nominalista é um filósofo, um advogado volúvel e um estudioso das palavras.
O caminho dos cosmológicos e dos médicos é bom. Prolonga a existência, sonda a natureza, cura nossas fraquezas e melhora a qualidade da vida dos humanos. Um bom cosmológico é médico ou cientista.
O caminho dos budistas é bom. Promete a salvação da alma, afirmando que este mundo é o da mutação, mas por isso mesmo, não é o real. É a favor, também, do desprendimento e da inação, do sentar e esquecer. Um bom budista é monge.
Todos estes caminhos são bons, mas não os sigo.
Não sigo os daoístas, pois para eles existirem, precisam de outras pessoas que os sustentem. É fácil fugir do mundo quando este está em ordem, e mais fácil ainda escapar dele quando passa pelo caos. Quem busca a ordem, pela sabedoria e pelo livre agir humano, são os letrados.
Não sigo os moístas, pois embora seja importante ouvir o povo, eles são a favor da ignorância. Destruíndo a educação, as pessoas terão suas chances de sobreviver diminuídas. Porque vedar ao mundo o conhecimento? Quem busca o estudo e a educação são os letrados.
Não sigo os legistas, pois suas leis se baseiam no medo. este medo inibe, amedronta, mas não educa. na primeira oportunidade, as pessoas que estavam intimidadas voltaram a cometer crimes, e os crimes existem por causa das leis. quanto mais leis, mais crimes. O medo e a imposição geram violência e temor, não devoção. Quem busca a ordem pela sabedoria e pela ponderação, que defende a autonomia das pessoas, que prega que elas devem ser livres no mundo em que vivem, e que suas obrigações são morais, são os letrados.
Não sigo os nominalistas, pois suas investigações muitas vezes não atingem o ser humano. Ao se divertirem com as palavras, esquecem seus sentidos. Ao destruírem os valores, ganham a discussão, mas perdem a razão. Aqueles que lutam pela razão e não maltratam as palavras são os letrados.
Não sigo os cosmológicos, pois eles ensinam a prolongar a vida, mas não lhe dão sentido. Qual a razão de viver longamente, sem felicidade? Quem busca sentido nas coisas são os letrados.
Não sigo os budistas porque suas vidas desprendidas dependem de outras pessoas presas. Sua pregação esquece este mundo, deixando para o outro a salvação. Quem busca a salvação neste mundo, e deseja ajudar as pessoas agora, são os letrados.
Por estas razões, o letrado não foge do mundo, mas luta para que ele fique melhor. Quando alguém reclama da ordem, esquece da desordem; o letrado tenta manter a ordem, e busca educar as pessoas para que elas aprendam, dando-lhes o direito de discordar - pois só alguém que sabe pode criticar e argumentar com a razão.
O letrado não deseja regimes duros, pois estes criam pessoas temerosas, incertas e fracas; por isso, ele tenta ensinar, para que as pessoas tenham a sabedoria em seus corações.
A moral é o centro das investigações do letrado. Ele busca que os valores apropriados prevaleçam, e que não haja deslealdade. Sua palavra é sua verdade. Um ser moral busca agir conforme o que fala.
O letrado não se apega a forma, mas ao princípio. Ele defende que as pessoas cuidem de seus corpos, mas não esqueçam suas mentes. Uma mente fraca será sempre um problema, seja qual for o corpo.
No caminho dos letrados, pode-se acreditar no que se quiser depois da morte, mas de fato, só temos esta vida, agora. Por isso ele busca ajudar o mundo neste momento.
Há muitos "letrados" que apenas decoram belas palavras, se dizem desprendidos, dominam o discurso, ditam regras, conhecem o futuro e sua aparência é respeitável. Fuja destes. Não são letrados de verdade. Não são nem macacos de imitação - pois os macacos são autênticos. Eles são cópias mal feitas de bons seres humanos.
O letrado verdadeiro se insurge contra a ignorância e o conformismo. Luta contra o escapismo e a maldade. Abomina a violência, detesta a mentira, é leal, fiel e obstinado na razão. Tem um objetivo: a sabedoria. Este é o seu caminho. Para realizá-lo, seu método é o estudo. Ele estuda as pessoas, a cultura e as coisas. não promete o que não pode cumprir ou o que não é capaz de dar ou fazer por si mesmo.
Assim, todos os caminhos são bons, mas o dos letrados me parece ser o único que se realiza. Enquanto existe o mundo, é porque há letrados buscando organizá-lo. Há séculos eles vêm combatendo a ignorância, e salvando o mundo do desconhecimento. Os letrados não são perfeitos, não são secretos, não são mágicos nem milagreiros. São apenas pessoas que tentam fazer de suas vidas um exemplo para si mesmos.
Disse Confúcio: na arqueria, quando o sábio erra, busca a razão em si mesmo.
Por isso, sigo o caminho dos letrados; e temo somente minhas próprias falhas.
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