Um macaquinho chegou nas portas do céu. Encontrou o guardião e disse:
-deixe-me entrar!
O guardião lhe respondeu:
-espere aí, irei consultar o senhor Buda.
Enquanto o guardião saía, o macaquinho ficou olhando os imensos jardins do céu, cheio de árvores lindas, frondosas e colorido nas quais ele já sonhava em se balançar. O outono se aproximava, e uma folha caiu de uma árvore. Nisso o macaquinho foi despertado de sua contemplação pelo guardião:
-Buda disse que você só pode entrar depois que disser quantas folhas há nas árvores do Céu.
O macaquinho sentou e respondeu:
-não tenho pressa. A primeira folha do outono já caiu...
Quem lê essa pequena história Zen deve estar matutando sobre o seu significado. Buda foi duro com o macaquinho? Qual a sabedoria do pobre bichinho?
O outono ia chegar em breve, quando as folhas das árvores caem. Logo, pois, o macaquinho não ia ter nada para contar, e poderia entrar no céu.
Quem não percebe essa sutileza se angustia com a idéia de que ele teria que contar todas as folhas! Pensando assim, sua tarefa seria cruel! Mas Buda não é mau. Nem o macaquinho era.
A mensagem dessa historinha é simples, e constitui o roteiro da perfeição budista, o caminho óctuplo:
Olhar correto: preste atenção nas coisas, não se desespere. Elas não são um problema, enquanto alguém ou alguma situação as transformar num problema.
Intenção correta: a vontade do macaquinho era ir para o céu, e lá chegando, entrar. Com isso no coração, como ele não descobriria a resposta?
Falar correto: perguntas corretas e respostas corretas formam o diálogo perfeito. A resposta do macaquinho é brilhante.
Agir correto: quanto se espera para entrar no céu? Em nosso imediatismo, o tempo de uma estação parece demais. Mas o macaquinho sabia que não. Era apenas o tempo para entrar no paraíso celeste. Pode haver algo melhor que isso?
Vida correta: só se pode obter a verdade seguindo a si mesmo, descobrindo-se e sendo sincero. O macaquinho havia sido apenas um macaquinho, e por isso estava as portas do céu.
Esforço correto: sentar e esperar para entrar no céu é muito? Apenas para quem não compreende a dimensão da conquista. O macaquinho compreendeu, sentou e esperou. E não foi muito...
Atenção correta: pois a atenção correta lhe revelou a chegada do outono. Sua entrada seria breve. A história é brilhante em revelar o quanto as pessoas são angustiadas ou se deixam levar pelas impressões.
Meditação correta: o macaquinho vislumbrou a situação, a tarefa, as possibilidades e o resultado final. Ponderou e fez do autocontrole sua salvação.
Quem compreende a situação tal como o macaquinho, encontra a libertação. A paciência não é uma punição, é o espaço de reflexão diante das dificuldades. Ponderar, meditar e aguardar; ao fim, a beleza se revela e o paraíso abre as portas. Buda sabia disso, e o teste que impôs ao macaquinho não era, de verdade, para o bichinho.
Era para nós.
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