Os Cosmológicos - (2000)

Embora a Escola Cosmológica não possa ser datada com segurança, alguns autores defendem a possibilidade da mesma ter surgido (talvez) na época de Confúcio, tendo em vista que dois de seus textos principais foram incluídos no Shujing (Tratado dos Livros) e no Liqi (Manual dos Rituais). Outros supõem que essa anexação teria se dado somente no período Han (III a.C – III d.C.), e há ainda uma tradição que atribui a um autor chamado Zuoyan (IV ou III a.C.) a elaboração das teorias defendidas pelos cosmologistas. Não há um consenso, portanto, sobre as origens históricas da mesma, mas podemos afirmar, com alguma segurança, que pelo menos desde o século IV a.C. as idéias desta escola estavam sendo organizadas e difundidas por entre os outros sistemas.

Acredita-se também que a escola cosmológica tenha surgido da evolução de outra doutrina, conhecido como escola yin-yang. Ligada a uma tradição mística de interpretação do Yijing, a escola yin-yang buscava a tradução dos mecanismos cósmicos através da compreensão da oposição complementar entre estas duas formas supremas de energia e por uma leitura específica das relações hexagramáticas presentes no texto do tratado. Esta teoria, contudo, ainda guardava um forte conteúdo religioso, estando ligada a práticas mágicas e oraculares muito difundidas em toda a China Antiga, desde o período Shang (XV – XI a.C.).

A proposta cosmológica consistia em compreender o ritmo da natureza através de sua observação, classificação, domínio e utilização. Embora empregasse também o sistema yin-yang, os cosmológicos realizaram três inserções fundamentais na elaboração de suas teorias: a necessidade de empregar o pragmatismo confucionista na observação da natureza, realizando-a de modo prático e não religioso; a conexão dos elementos primordiais (yin-yang) com o conceito da energia (Qi), e o desenvolvimento da relação das cinco fases (wuxing), que explicariam as formas pelas quais a energia se concretiza no plano material.

Baseando-se na idéia da originação primordial do universo pela relação vazio – princípio (ver o ensaio sobre os Elementos Primitivos), a primeira manifestação cósmica se daria pela constituição das mônadas yin-yang, conceitos fomentadores de toda criação; a estes se segue a matéria (ou energia, Qi), que concretiza os oito estados essenciais da natureza, os Guas (Trigramas), que são o Céu, a Terra, o Trovão, a Água, o Fogo, a Montanha, o Lago e o Vento; cada um desses Guas tem sua estrutura regida por uma conformação específica dos cinco estados da matéria, os wuxing (água, fogo, metal, madeira e terra), que estão organizados entre si em relações de fomento, anulação, mitigação e interpolação.

O resultado destas experimentações levou a formulação de uma teoria organicista que conseguiu articular a cosmologia desenvolvida no período Zhou com uma série de procedimentos básicos de investigação e explicação da natureza que viabilizava o uso de seus recursos, de forma lógica e ordenada, para os mais diversos fins. A teoria cosmológica, portanto, deu base para o desenvolvimento de toda uma “ciência” chinesa, inferindo os ciclos fundamentais do cosmo, seu funcionamento, e suas propriedades.

No período Han, os cosmológicos obtiveram grandes avanços no campo intelectual, sendo absorvidos pelas mais diversas escolas filosóficas e em praticamente todos os ramos do conhecimento. Sua influência é atestada na Arquitetura (Fengshui), Medicina (como no caso da acupuntura, ou do texto médico explicativo Neijing, ou Tratado Interno), História (Sima Qian utilizou a teoria do wuxing na formulação do Shiji [Registros históricos]), Agricultura, etc.

Apesar de pouco sabermos sobre os principais especialistas desta escola, podemos admitir seu grande sucesso em implementar uma proposta sobre como racionalizar o conhecimento sobre a natureza estruturando-a em leis definidas, observáveis e comprováveis. A eficácia dos métodos cosmológicos é confirmada pelo longo tempo em que estes têm sido empregados nas ciências tradicionais chinesas e, apesar de suas teorias terem sido discutidas por vários autores em toda história da China, sua estrutura básica mantém-se praticamente a mesma, quase sem modificações.


Bibliografia Indicada:

Anônimo. Neijing. Rio de Janeiro: Objetiva, 1991. (a autoria deste texto é tradicionalmente atribuída a Huangdi, o Imperador Amarelo)

Anônimo. O Livro do Imperador Amarelo. Rio de Janeiro: Ícone, 2002. (outra tradução mais recente do Neijing)

CHENG, A. Historia del pensamiento chino. Madrid: Bellaterra, 2003.

COOPER, J. Yin - Yang. SP: Martins Fontes, 1985.

MARKETT, C. Yin - Yang. SP: Cultrix, 1995.

RONAN, C. História Ilustrada da Ciência de Cambridge. Rio de Janeiro: Zahar, 1987 Vol. 2

NEEDHAM, J. La Gran Titulación. Madrid: Alianza, 1977.

NEEDHAM, J. De la ciencia y la tecnología chinas. Madrid: Siglo Veintiuno, 1978.

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