Ao meu ver, uma possível parceria entre Brasil e China seria extremante interessante para ambos, se bem calculada. Desde a década de 70, a China dirigiu seus interesses econômicos para áreas alternativas na África, Ásia Central, e agora foca suas atenções na América. Temos algumas lições importantes a aprender com os chineses, tanto em termos de produção como em termos de negócios. A negligência com que o Brasil tem tratado a questão só demonstra a falta de visão política à longo prazo, que é reincidente entre nossos governantes. Preferimos apostar nossas fichas em velhas parcerias que já demonstraram sua fragilidade em tempos de crise, ou quando há divergência de interesses. Mas sejamos diretos, pois, naquilo que o Brasil tem a ganhar com uma aproximação com a China.
Em primeiro lugar, a China será, indubitavelmente, uma das maiores economias do século XXI, e isto já está se realizando. Podemos acompanhar de perto este processo, participando dele ou “esperando para ver o que acontece”. A China sempre foi, desde a antiguidade, uma nação gigantesca e poderosa, e isso não pode ser esquecido. Mesmo tendo sido invadida, espoliada, ela demonstrou seu incrível poder de recuperação, retomando para si, em menos de um século, uma posição na hegemonia mundial que países como o Brasil não alcançaram mesmo não sendo invadidos ou destruídos...isso se deve, antes de tudo, a um visão contínua de mudança que existe na mentalidade chinesa. Os chineses aprenderam que o futuro é construído de projetos otimistas, de um labor duro –mas sempre recompensador - para se obter qualquer tipo de riqueza ou bem durável e, principalmente, que obter o conhecimento e domina-lo é melhor do que comprar qualquer coisa pronta. Dificilmente veremos os chineses trabalhando duro apenas para comprar uma mercadoria de alta tecnologia pronta – ter em mão esta tecnologia é o que pode trazer, de fato, uma verdadeira riqueza. Foi assim com o papel, com a bússola, com a pólvora, todas criações chinesas. O que pode nos fazer pensar que seria diferente agora? Os chineses perceberam rapidamente a existência de fatias do mercado em que podiam atuar produzindo mais barato, incentivando as indústrias locais com isenções amplas e investindo pesado na aquisição de tecnologia. Vemos hoje em universidades européias inúmeros jovens chineses estudando, junto de colegas asiáticos interessados nos mesmo objetivos: tecnologia de ponta. Hoje, a fama de que os produtos chineses são ruins é apenas uma outra forma de dizer aquilo que grande parte dos empresários ocidentais demoraram a confirmar, de modo relutante: seus produtos estão caros, são magníficos e vendem pouco; os chineses são acessíveis, simples, e atendem a demanda de uma grande parcela mundial de consumidores menos providos.
Todas estas constatações colocam a nós, brasileiros, na seguinte situação: estabelecer uma parceria com a China significa aprender com uma cultura milenar a como se comportar no mercado internacional, valendo-se do poder de barganha que cada país tem (e temos uma economia e um mercado cujo peso é forte) e aprendendo a negociar de modo objetivo e salutar, visando atingir os diversos segmentos produtivos do país. Sim, pois se a visão empresarial e política continuar a privilegiar interesses próprios, ela nunca vai compreender que uma nação ganha muito mais quando todos ganham juntos. Outro ponto é estabelecermos uma relação comercial durável, intensa e de mão dupla, conseguindo espaços no mercado chinês antes que outros países o consigam. Podemos garantir fatias disso, e por meio da china podemos adquirir também tecnologias novas a um custo mais acessível. O Brasil ainda conta com um fator especial a seu favor nesta relação: os chineses não possuem qualquer tipo de preconceito contra brasileiros, posto que nós nunca invadimos seu país como fizeram os europeus. Isso pode parecer superficial, mas não é: apesar de países como o Japão investirem bem na China continental, seu processo de diálogo vez por outra entrava, devido às rusgas das guerras mundiais. Veja-se o caso de Hong Kong: quanto chineses sentiram falta, de fato, da presença inglesa? Que a economia continuasse funcionando e estava tudo bem. Assim, se os brasileiros não buscarem ser “espertos”, mas dialogarem de igual com os chineses, podemos conquistar um bom espaço para nós nesta relação.
Mesmo com seus “olhos apertados”, os chineses já viram de longe o potencial de uma relação com o Brasil – parece que falta a nós, justamente, “abrir os olhos”!
Publicado na Revista Amanhã, Janeiro de 2008
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