Viver e Morrer na China Antiga

Esta breve seleção de fragmentos foi realizada, faz alguns anos, para uma apresentação sobre o tema das concepções de Vida e Morte na China Antiga. Já explorei o tema em textos anteriores, como em http://sinografia.blogspot.com/2008/03/sobre-o-velho-que-movia-montanhas.html , http://sinografia.blogspot.com/2007/07/evoluo-do-pensamento-religioso-chins.html , http://sinografia.blogspot.com/2007/07/o-sonhar-e-religio-na-china-2005.html , http://sinografia.blogspot.com/2007/07/uma-religiosidade-complexa-2004.html , mas achando esta breve seleção em um arquivo perdido, achei que seria interessante dividí-la com o leitor.

Textos

1. O Grande Início
O Dao produziu o um. O um produziu o dois. O dois produziu o três. O três produziu as dez mil coisas (=todas as coisas). Todas as coisas possuem yin (o principio passivo ou feminino) e contém yang (o princípio ativo ou masculino), e a mistura da força vital (qi) produz a harmonia.
(Daodejing, capítulo 17).

2. Cosmologia das Origens
“Houve um Começo, um começo anterior a Este Começo, e um começo anterior a ambos".
(Huainanzi, capítulo 2)

3. A Formação da Matéria
“O Grande Começo produz em sucessão o espaço, o universo, a força vital primária, o yin e o yang, e, finalmente, a forma material”.
(Huainanzi, capítulo 3)

4. Unicidade da Matéria
A centralidade é a ordem do universo, e a harmonia é sua lei inalterável".
(Chang Heng, capítulo 7)

“[Embora os seres vivos] difiram em sua natureza e destino, (...) todos vêm do mesmo Grande Começo, (...) com referência ao qual o homem puro não faz distinção”.
(Huainanzi, capítulo 8)

5. Seqüência da criação e sua lei inalterável
"A seqüência da criação é a seqüência do ser. A coexistência do grande e do pequeno, e do alto e do baixo, é a ordem do ser. Há uma seqüência na produção das coisas, e há uma ordem em sua existência".
(Chang Heng, capítulo 1)

6. Imutável é, somente, a existência da mutação
“Todas as espécies vêm de germens. Certos germens, caindo na água, tornam-se lentilhas -d'água (...) tornam-se liquens (...) que produzem (=alimenta) o cavalo, que produz (ibidem) o Homem. Quando o Homem envelhece, torna-se gérmen outra vez".
(Zhuangzi, capítulo 17)

7. O tempo da existência
“[As coisas] entram na vida e dela saem; sua maturidade é impermanente. Na sucessão do crescimento e da decadência, estão mudando de forma incessantemente. Anos passados não podem ser revividos; o tempo não pode ser detido. A sucessão dos estados é interminável; e todo dia é seguido por um novo começo”.
(Zhuangzi, capítulo 17).

8. Descobrindo o ritmo da existência
“Harmoniza todas as coisas com a igualdade da Natureza e as deixa sós no processo da transformação natural. Esta é a maneira de completar o curso da nossa existência. (...) Esquecemos as distinções entre vida e morte e entre certo e errado. Achamos satisfação no reino do Infinito e, portanto, ali paramos".
(Zhuangzi, capítulo 2).

9. Alcançando o Vazio
“Alcance o completo vazio. Mantenha inabalável quietude.Todas as coisas nascem, e vejo por aí seu retorno.Todas as coisas florescem, mas cada uma retorna à sua raiz”.
(Dadodejing, capítulo 16)

10. Alcançando o Vazio (2)
“Não soube o que era amar a vida e odiar a morte. Não se regozijou com o nascimento nem repeliu a morte. Foi espontaneamente e espontaneamente veio - eis tudo. Não se esqueceu de onde veio nem procurou saber onde terminaria. Aceitou as coisas alegremente, e devolveu-as à Natureza sem reminiscência. (...) Sendo assim, sua mente ficou livre de todos os pensamentos. (...) Esteve em harmonia com todas as coisas, e assim por diante, até o Infinito".
(Zhuangzi, capítulo 6)

11. Viver, porém, é constatar o que se é
“Ainda não sabemos servir os homens; como podemos saber servir os espíritos?... Ainda nada sabemos da vida, como podemos saber alguma coisa sobre a morte?"
(Lunyu, capítulo 11)

12. Aprenda a viver
“Nunca discuta fenômenos estranhos, explorações físicas, desordens ou espíritos".
(Lunyu, capítulo 7).
Se deve prevalecer a Lei Moral, é porque esse é o mandamento do Céu".
(Lunyu, capítulo 14)


Indicações bibliográficas:
BOFF, L. (org.) China e Cristianismo. Petrópolis: Vozes, 1979.
CHAN, W. T. Sources of Chinese Tradition. New York: Columbia University press, 1960.
CHENG, A. Historia del pensamiento Chino. Barcelona: Bellaterra, 2001.
CHING, J. Chinese Religions. London: Mcmilliam press, 1993.
CHRISTIE, A. Mitologia Chinesa. Lisboa: Verbo, 1986.
ELORDUY, C. El Humanismo político oriental. Madrid: EDICA, 1976.
GRANET, M. Les religions des chinois. Paris: Albin Michel, 1989.
JOPPERT, R. O Alicerce Cultural da China. Rio de Janeiro: Avenir, 1979.
LOEWE, M. Chinese ideas of life and death. Taipei: SMC books, 1994.
LOPEZ, J. (org.). Chinese religions in practice. Princenton: Princeton University Press, 1996.
SMITH, D. H. Religiões chinesas. Lisboa: Arcádia, 1971.

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