Tem os sábios a necessidade de Viajar?
Tem os sábios a necessidade de viajar? Laozi dizia que “sem sair do umbral de casa, bem se pode conhecer os sucessos do mundo”. Sendo assim, que necessidade temos de viajar? Não tem os intelectuais necessidade de fazer viagens? Quando uma criança nasce, seus pais disparam seis flechas (uma para o céu, uma para a terra e quatro para os pontos cardeais), para abrir-lhe todos os caminhos do mundo; então, como abster-se de viajar?
Confúcio era um homem de grande inteligência. No entanto, foi para a corte de Zhou para conhecer as regras e os ritos; viajou ao estado de Qi para conhecer a musica “shao”, legado dos tempos antigos; esteve no Estado de Wei, e dali regressou para o Estado de Lu. Com todo o material que reuniu, se pôs a reconstruir esta música classificando suas diversas melodias em “ya” e “song”, segundo suas características. Antes de sua viagem a corte da dinastia Zhou e dos estados de Qi e de Wei, Confúcio não tinha uma idéia cabal das regras dos ritos e etiquetas, nem havia escutado a música “shao”, nem havia reconstruído as melodias ya e song. Se foi assim com um homem de tao grande inteligência, que dizer dos homens de inteligência inferior?
A idéia de que os intelectuais podem permanecer sem fazer viagens significa que podem conhecer os sucessos do mundo sem sair do umbral de sua casa. Esta é a opinião de Laozi. A tese de Laozi colocava ênfase em cultivar o espírito e a moral pessoal deixando de lado os assuntos do Estado. Considerava que todo o Mundo estava dentro da mente do homem, e por isso sustentava que bastava buscar a verdade na mente sem a necessidade de sair para o mundo exterior.
Outros homens santos mantinham opiniões diferentes, porém. Se for certo que eles nasciam sabendo, ainda assim só possuíam os dotes e propensões que a natureza lhes deu, e por isso mesmo acreditavam que precisavam realizar um grande esforço para aperfeiçoá-las e desenvolvê-las. As montanhas, os rios, os costumes dos diferentes lugares, os sentimentos do povo, as vicissitudes do mundo, os ensinamentos dos antigos e os exemplos de conduta não podem ser conhecidos com amplitude senão por meio de viagens por aí a fora. Não se pode conhecer esta realidade sem sair de casa, mesmo que se seja um homem de grande inteligência. Por isso, se não tivermos o desejo insaciável de ver e ouvir, seremos objeto de gozação por nossa superficialidade.
Se não é suficiente ter amizade em um só canto, precisamos fazê-lo em nosso país, ou mesmo em diferentes partes do mundo; e mesmo não sendo suficiente fazer amizade com pessoas de outras partes do mundo, precisamos ainda fazê-las com os antigos. Foi justamente por isso que o grande poeta Tao Yuanming quis viajar pela bacia do rio amarelo, buscando vestígios deixados pelos homens santos antigos das épocas passadas. (Esta seria a única maneira de melhor escrever sobre eles...)
(Wu Cheng, 1249-1333)
Peregrinar é um ato de fé em si mesmo.
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