Nos tempos antigos, só existiam os ritos. As pessoas se encontravam para confraternizar, para festejar, ou para discutir assuntos urgentes e importantes. Em função disso, surgiram as torres do tambor e do sino. Ambas marcavam os períodos ao longo dos dias, mas também ressoavam quando se fazia necessário. No Tratado dos ritos, o grande mestre Confúcio explicava como funcionavam, na antiguidade, os mais diversos tipos de práticas sociais, costumes, rituais, e o que mais fosse necessário para viver; e assim, o mundo estava em ordem.
Na época dos Han, Cai Lun se apresentou na corte para demonstrar sua descoberta: a fabricação do papel. A invenção era mais antiga, mas Cai Lun sistematizou o método para fazê-lo, e foi consagrado por sua ciência.
O sábio viu nisso a promessa de redenção do mundo, pois o papel poderia levar as mensagens de sabedoria mais além, e sempre.
Os aproveitadores criaram a “reunião”.
Mas o que era a “reunião”? Era a oportunidade que aqueles, sem ter inteligência, habilidades ou sabedoria, estavam esperando para poderem se perpetuar na história. A “reunião” consistia num suposto rito pelos quais as pessoas poderiam resolver problemas antes que eles existissem – e o meio de se fazer isso era preencher documentos e mais documentos em que estava gravada toda “sabedoria” destes ignorantes: apenas espaços vazios, determinações extenuantes, incontáveis lacunas que deveriam ser completadas com fragmentos de nossas vidas. Para isso, eles amaldiçoaram a invenção de Cai Lun, e produziram quantidades absurdas de papel com seus escritos sem sentido.
As “reuniões”, em breve, começaram a ser controladas por sociedades secretas, que determinavam o que poderia ou deveria ser discutido. As requisições e informações postas no papel em breve se transformaram numa linguagem hermética, inacessível aos que não fossem iniciados – e nada disso continha sabedoria.
Algumas pessoas começaram a participar das reuniões, crendo que sua proposta – prever problemas – era válida. No entanto, cedo eles perceberam que estes problemas poderiam nunca ser reais; e mais, quando havia problemas de fato, eles não eram discutidos, a não ser que fosse de acordo com o interesse dos “secretos”.
Em breve, estes seres abomináveis fizeram volumes abissais de escritos, para legarem a posteridade sua “sabedoria”. Enquanto o sábio pensa muito e resume tudo numas poucas linhas, as “reuniões” acabaram com as aulas, as palestras edificantes e os encontros saudáveis. As reuniões começaram a roubar a vida das pessoas; e tudo em função do desejo dos ignorantes de se perpetuarem ao infinito. Por isso tantas reuniões são marcadas, e os temas, as vezes, são apenas o que será debatido nas próximas reuniões.
Confúcio, em sua sabedoria, escreveu sobre os ritos, sobre a história, sobre os poemas, sobre a música, sobre as mutações e sobre a sabedoria; mas nunca sobre reuniões. Se elas fossem boas, ele teria dito. Melhores sempre são as festas e os encontros, onde as pessoas vão porque querem, e não são obrigadas. Quanto a Cai Lun, não sabemos se ele queria ajudar a humanidade ou apenas se promover. As conseqüências disso estão presentes até os dias de hoje, e são lamentadas por milhares de árvores.
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