No outono, começa a expansão de yin. As épocas yin são de introspecção. É o tempo de se enrolar em panos, tomar caldos quentes, beber coisas fortes, fumar o cachimbo e contemplar com melancolia.
O outono é a chegada do recolhimento. Na vida, é o início do sono, o mais próximo da morte. O sonho, atributo fundamental do bom cochilo, é a meditação mais natural e ativa do corpo. O céu é cinzento, o ar pesado, e mesmo os fantasmas não saem do cemitério. O nevoeiro se corta a faca. Os livros se empoeiram e podem embolorar; é preciso que sejam abertos e lidos para não estragarem. As músicas começam a ficar tristes; é necessário uma fogueira, danças, e inconformação para combater tanto o frio quanto os sentimentos.
O estudo se aprofunda, sonham-se com os ideogramas, lembra-se dos ancestrais; os grandes mestres já passaram por épocas yin como essas. A sagração de Confúcio foi saber, após morrer, que sua obra nunca foi esquecida. Ele só deve lamentar os excessos em seu nome.
A atmosfera triste desperta temores, mas esquenta o coração. Os casais se juntam, os filhotes se aninham, os solteiros pensam sua solidão, o vento frio esvazia as ruas, mas enche casas e bares. Do palácio imperial emanam as ordens cósmicas; serão elas ouvidas aqui, tão longe? Nas casas, é o tempo dos quartos mais quentes, com cobertas; fora delas, é o abraço dos amigos ou dos desconhecidos. Amontoar-se é ma necessidade do corpo, mas a introspecção é a tendência da mente.
O cheiro de madeira podre convida à comensalidade em torno da lareira ou do fogão; já o fogareiro, insinua a leitura que cansa os olhos, entorpece a consciência e traz o bom sono.
Que estação triste, que paisagem linda; que tempo feio, que época feliz!
A oportunidade fantástica da sabedoria!
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