Estou sendo?
Foi na última visita que fiz a minha terra natal. Fazia um friozionho - na verdade, frio mesmo não existe lá - talvez, apenas, um "breve incômodo" que toca a pele e se vai, nada mais. Era suficiente para escutar, na minha cabeça, uma música triste fazendo algum sentido.
E deste ambiente melancólico veio aquela sensação bizarra e estranha de saudade das coisas que nunca fiz. Sim, dos sentimentos ruins, esse é o que mais me incomoda - a sensação de querer voltar atrás e viver o que não pude ser. Estarei sendo o que, então? Sou o que falhei ser, como dizia o poeta? Tudo fica ainda mais claro quando volto.
São milhares as coisas que gostaria de ter sido, de ter feito, de...e voltar me faz perceber que a distância está cada vez maior. Mas, analisando bem a situação, não sei se essa trilha obscura faz algum sentido. Quando estou na minha terra natal, sinto as pessoas longe, fechadas, me tratando como uma espécie de nativo traidor - afinal, os nativos de lá são receptivos com verdadeiros turistas. Eu, porém, fui defenestrado pela realidade deste mundinho. Virei as costas, adotei-me em outro lugar, e agora não pertenço a nenhum dos dois. Nessa hora compreendo a necessidade de viajar de Wuchen, ou de ser um estranho nas terras bárbaras. Não espero precisar morrer, no entanto, para compreender como são as coisas.
Pois há um elemento fundamental nisso tudo que me faz estranho, é a minha reinvenção. Somente depois de vencer tudo que me aprisionava na minha terra natal, finalmente consegui me transformar em grande parte do que sempre quis ser. Quando volto, agora, creio que tenho saudade de não tê-lo sido antes. No entanto, se ao ser eu mesmo me torno estrangeiro em qualquer lugar, então estarei sempre distante em qualquer terra, ponto, cidade ou mundo. Me pego, assim, negando estas saudades estranhas, porque elas são uma armadilha da minha imaginação. Eu prefiro ser absolutamente do jeito que sou, e não poderia negá-lo porque foi minha maior conquista. Estarei, então, a ser condenado estrangeiro em qualquer parte, exceto dentro de mim.
Por isso adoro as nevoas - nada fica tão claro, senão o fato de você estar lá, sabe-se onde for.
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