O Livro das Canções Outonais

Choveu cinco dias
Após a festa dos ancestrais
O Céu chora de saudades
...
A festa dos ancestrais
Saúda a morte
E lembra a vida
...
As canções são todas felizes
Depois, vem a tristeza
Tudo é yin-yang
...
O frio chega
A morte toca os pelos
Dançar é exorcizá-la
...
Mas no dia seguinte
O corpo, velho
Lembra nossa decadência
...
A vida se esvai nos jovens pelos beijos
Nos velhos, pelas teorias
...
Um olhar
Dois felizes
E um sofre em silêncio
...
Homens duros que bebem
E ficam bons
São bons
...
Homens bons que bebem
E ficam maus
São maus
...
Homens que não bebem
Não vão à festa dos ancestrais
São os piores de todos
...
A alegria do jovem
Pode salvar os velhos
Desde que eles não queiram
Ser jovens
...
Um beijo
Dois felizes
E os ancestrais aguardam a chegada
de mais uma alma morta
...
A canção Outonal diz:
“seja feliz; O inverno vai chegar”
Mas há outono dentro das pessoas
...
A festa dos ancestrais invoca os espíritos antigos
Eles vieram
Todos estão felizes
...
Mas cada visita de um morto
rouba um pouco de uma vida.
Para os velhos
A troca é justa
...
As pessoas se paramentam do modo antigo
A beleza perdura
...
Ele queria tocá-la
Mas não podia
É o poder de domar do pequeno
...
Confúcio discursou sobre o abuso do álcool
Confúcio discursou sobre o abuso das palavras
Confúcio abusava dos discursos quando não bebia
...
O mestre era sábio
Bebia com os amigos
Que mais pode ser dito?
...
É meio da noite,
A festa dos ancestrais chega ao ápice
O amor é o convidado de honra
...
O espírito do amor foi invocado
Ele é “Ai”, assim como um gemido
...
Num poço escuro
Alguém soçobra
É hora de tomar decisões
...
Vivos e mortos são yin-yang.
Um é sonho do outro
...
Na festa dos ancestrais,
Os mundos encontram-se,
e o tempo acaba
tudo é passado
...
Uma tartaruga aparece
E honra a festa
Dez mil gerações
Estão abençoadas
...
O sábio está feliz ao longo da festa
Amanhã ele estará triste
Se é assim que deve ser
Saber é ter o controle
...
Ele bebe quando tem sede
Ele come quando tem fome
Ele ama quando pode
Mas não chora, quando deseja
...
As canções outonais dizem:
“as pessoas adoram o espírito do amor
Os sábios cultuam o espírito da sabedoria
A sabedoria contém o amor
Mas o amor, contém sabedoria?”
...
Os espíritos antigos passeiam entre os vivos
E são escutados
As festas dos ancestrais são sábias, pois
...
Alguém sua, ao dançar
Esconde-se um choro
...
Até as árvores cansam no outono
E se livram das folhas
...
Está tudo chegando ao fim
Os vivos estão quase mortos
O cansaço é amigo da reflexão
...
Na próxima festa dos ancestrais
Quem não estiver de um lado
Estará do outro
...
Os que nunca foram
Dificilmente serão
...
Os ancestrais voltam
O que é sagrado se mantém
...
“shi you ba jiou”, diz o ditado
Como o dez têm o oito e o nove
Por trás de toda tristeza contida
Há uma alegria desmedida e angustiada
...
Temos que ser fortes
O inverno vem
O outono é uma longa introdução
...
Alguém olha, e se despede
Se foi, se perdeu
Os mortos trazem consigo
Esta quase-morte
...
No julgamento do inferno,
O juiz se compadece dos vivos
...
Tanto quanto um mestre,
Os demônios são amigos da sabedoria
...
Corpos se esfregam
Almas se confortam
A mente acompanha
O coração se debate
...
É outono, foi-se a festa dos ancestrais
O sábio vê o mundo como um só
E consulta os oráculos
...
Nada é igual, sempre
Isso não muda
É a mutação

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